Transformation-Ready

Ao invés de redirecionar esforços a cada novo hype, muitas empresas poderiam alcançar melhores resultados mantendo-se em um estado de contínua transformação.

Imagine que, por ser uma pessoa que não faz viagens de longa distância com frequência, você, com razão, não se mantém constantemente preparada para viajar. Na verdade, viajar é algo que, para você, envolve grandes rituais de preparação, algumas compras, grandes planos, um certo estresse, e muitas malas também. Você não consegue dormir bem nos longos voos, sofre com jet-leg, e é impactada por todos os efeitos de uma viagem longa, afinal de contas: você não está habituada a isso.

Agora, imagine que houve uma mudança na sua vida e você precisará viajar internacionalmente todo mês, ou mesmo a cada semana, e além disso algumas dessas muitas viagens serão inesperadas. Será que seus rituais de viagem continuariam válidos para esse novo momento? Ou será que o evento “viagem” teria que ganhar uma trivialidade na sua vida, já que agora se tornaria um processo contínuo?

Na verdade, muito provavelmente, você precisaria se tornar uma pessoa “Travel-Ready”, ou seja, alguém que está sempre preparada para viajar bem, não importando a frequência, destino, distância, ou mesmo tempo de antecedência para preparo.

Project, Agile, Product, CX, ESG, AI… e contando.

Algumas organizações estão percebendo que transformação, e todo o emaranhado que a acompanha, precisa deixar de acontecer em volta de grandes eventos e movimentações a cada nova tendência, e se tornar um processo contínuo.

Se olharmos para alguns dos movimentos com grande impacto na transformação das empresas nas última décadas veremos que, quase sempre, eles são direcionados por doutrinas metodológicas, topológicas ou mesmo tecnológicas, que, após serem citados como boa prática por uma ou mais empresas de destaque, ganham notoriedade e se tornam para muitos uma tendência.

Isso aconteceu com a busca por se tornar uma empresa project-driven, e que depois foi substituído pelo desejo de ser uma agile-organisation, e que agora foca na busca em se tornar uma empresa product-driven, ou ainda client-centric, ESG-transformed e daqui a pouco AI-enterprise.

Todas essas e outras doutrinas trouxeram, e continuam a trazer, enormes contribuições para o mundo dos negócios ou mesmo para a sociedade, e, de forma alguma devem ser ignoradas. No entanto, o impacto que a chegada dessas ‘novidades’ causa na sua transformação revela o quão a sua empresa está preparada para se transformar continuamente.

Transformation-Ready

Se a cada nova tendência, a transformação da sua empresa precisar realizar grandes manobras, talvez suas habilidades de transformação ainda sejam um tanto limitadas e certamente custosas. Talvez sua empresa intrinsicamente ainda pratique transformação como se fosse um projeto, mesmo que isso não seja declarado ou colocado no papel de tal forma. No entanto, se transformação precisa se tornar rotina, nossa prática também precisa mudar.

É a mesma situação abordada no início dessa postagem, do erro que seria em tentar utilizar os mesmos rituais de viagem, da época que você pouco viajava, em um novo momento onde viagens longas e inesperadas se tornaram rotina. Olhando para empresas, muitas continuam a se organizar para transformação da mesma forma que faziam quando estas aconteciam raramente e com grandes intervalos.

Explorando um pouco mais o assunto, mas ainda de forma abrangente, me arriscaria a dizer que as características a seguir seriam algumas das essenciais para que que uma empresa se aproxime desse estágio:

  • Assume explicitamente que se encontra em um estado de transformação contínua, com a certeza de que novas informações e tendências adicionarão novas expectativas à transformação.
  • Está sempre preparada para incorporar essas novas características sem a necessidade de grandes manobras.
  • Lidera, organiza e governa de forma integrada, mas com forte descentralização, os diversos temas relacionados a transformação.
  • Aceita a complexidade e incerteza atual operando de uma forma que se beneficia dessa realidade.
  • Utiliza critérios de contexto para, de forma crítica, avaliar se uma novidade deve ou não ser incorporada aos objetivos e práticas da transformação.

Em uma próxima postagem devo refinar melhor essa lista, possivelmente adicionando outros aspectos, mas certamente trazendo exemplos que ajude a enxergar a prática de cada um deles.

 

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